sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

.:: PODERÁ NOS ADOTAR, MÃE PÁTRIA? ::.

Bom dia, pessoas! Hoje meu coração dói muito. A inquietação toma conta da minha mente. Por isso, quero participar a vocês que, a partir de hoje, toda sexta-feira, falarei um pouco a respeito da questão dos nossos irmãos refugiados.

“Na falta de uma pátria verdadeira,
À qual sentimos pertencer de corpo e alma,
É preciso passar pelo aprendizado da perda,
Com a esperança de que ela não seja irremediável”
Hannah Arendt


Deixarei de focar o ambiente micro, que está limitado nas paredes que compõem nosso lar, para falar, numa visão macro, dos nossos irmãos refugiados, em especial, os haitianos, que sem a mãe pátria, vagam por terras que não lhes abrigam.

São pessoas deslocadas. Apátridas que buscam refugio em alguma nação (inclusive o Brasil). São os “sem direitos”, abandonados em sua terra e esquecidos voluntariamente por seus irmãos (de outras nações).

O conflito armado, os desastres naturais, entre outros fatores, tiraram tudo que fazia parte de suas rotinas, já com certo grau de dificuldade. Foram então, lançados ao terror, sem liberdade, dignidade e responsabilidade.

Como se não bastasse, ainda existem aqueles que, aproveitando da vulnerabilidade desses irmãos sem pátria, praticam tráfico geográfico e humano, subtraindo deles seus direitos que, por definição, deveriam ser invioláveis e universais.

Desprovidos do seu “eu” digno, perdidos, na busca de um lugar para se reconstruírem, buscam outras terras, outras “mães”, sem encontrar de fato o Estado que os receba e, sem ninguém a querê-los, como excesso inútil, “fardo embaraçoso”, e assim continuam vivendo em um limbo, sem documentos, sem berço, destruídos emocionalmente, feridos em seu “ego” necessário.

Muito me entristece. Sinto que o mundo não aprendeu com os conflitos, com as atrocidades, com os desastres causados pelo próprio homem.  Quem sabe da história de Auschwitz, sabe que isso jamais necessitaria ter ocorrido. Mas aconteceu. E as pessoas da época se silenciaram. A maioria emudeceu.

Quando apresentei meu trabalho monográfico em 2005 – Nacionalismo e Nacionalidade no Ordenamento Jurídico Brasileiro, recordo que um dos professores que faziam parte da composição da banca questionou meu trabalho, afirmando que a apatrídia era condição inexistente no mundo.

Fiz um minuto de silêncio e questionei comigo mesma, se não vivíamos em mundos diferentes. Logo depois alguns colegas se levantaram revoltados, e contestaram o posicionamento do professor. 

É certo que a apatrídia não deveria existir. Todos têm direito de ter uma pátria, assim como todo filho nasce por uma mãe e, em tese, é criado por ela.

Como dizia Hannah Arendt “O mundo no qual estamos obrigados a viver é um mundo de mentiras e aparências”. Quando Hannah redigiu seus escritos, era o tempo que todos queriam apagar da memória: o massacre dos judeus (em que pese ela nunca veja exatamente dessa forma). Para ela, “o problema não é tanto o salvamento dos judeus europeus, mas o de toda a espécie humana”.

Eu não acredito que isso ainda acontece! Nasci em 1982, e ainda existem campos, existe exílio, existe sofrimento. O mundo não tem aprendido. As histórias se repetem com outros povos, todos os dias.

Mas vivemos no Brasil, e mal sabemos de fato o que os refugiados vivem. Embora nosso Exército esteja atuando no Haiti, é pouco divulgado pela imprensa o que realmente se passa por lá.

Cada qual está preocupado demais com a rotina para se dar conta do que acontece lá fora. Não lamento. Mas, ao olhar pela janela e visualizar o que acontece lá fora, o que faremos? Podemos, filhos da pátria brasileira, reescrever uma nova história com nossos irmãos refugiados?

Podemos, enquanto Estado brasileiro, ter a capacidade de respeitar os direitos do homem, dando-lhe um sentido? Ora, o ser retirado dos direitos do homem é, antes de tudo, um ser privado de um lugar no mundo!

Sou Kardecista, e, além disso, estou sempre que posso ao lado dos nobres amigos que compõem a Unijovem, da Igreja Batista Central de Brasília. Quero levantar esse questionamento também aos meus amigos que compõem esse amado grupo, bem como a todos os amigos que fazem parte de outros grupos e possuem outras visões tanto políticas quanto religiosas. O Deus é único, não há outro.

E nós, como filhos, o que temos feito no que tange a Lei do Auxílio? Não quero responder agora.

Ficará aqui então, a porta da reflexão.

“O fato de encontrar uma pequena parcela de terra
onde nos sentimos em paz
é apenas uma quimera perigosa”
Hannah Arendt


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